Os gols dos alemães vão além dos verdes campos de futebol

Por Bruno Rezende.

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Todo mundo viu o show que a seleção alemã deu sobre os hermanos argentinos no último sábado ao eliminá-los por 4 a 0 da copa do mundo de futebol da África do Sul. Mas os alemães não dão espetáculo apenas nos campos de futebol, quando o assunto é meio ambiente a goleada alemã é bem maior. Se investimento em ações ambientais fosse como um jogo de futebol, a Alemanha já seria campeã antes mesmo de entrar em campo. Percebi isso depois da minha “meteórica” passagem pelo país para receber a premiação do The Bob’s, onde pude trazer na bagagem algumas informações interessantes sobre o ponto de vista ambiental.

Todo brasileiro costuma achar que a Alemanha se resume apenas aos melhores automóveis do mundo, às melhores cervejas e salsichas, um engano, existe muito mais por lá. E quando o assunto é preocupação com meio ambiente e investimento pesado no setor a gente percebe como o Brasil, um país com tantas riquezas naturais, ainda está engatinhando no assunto.

É lógico que não vou comparar a terceira economia do mundo com o Brasil, isso é impossível. Nem vou propor que tomemos como base todas as atitudes deles, pois estamos falando de outra realidade. Além do mais, nós não estamos acostumados a seguir bons exemplos, mas não custa nada compartilhá-los.

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Para começar eu percebi algo estranho chegando a Frankfurt: a quantidade de áreas verdes. Tudo bem que o Brasil é referência pela nossa Mata Atlântica, mas em áreas urbanas nós não temos cidades tão arborizadas como as que eu vi no caminho até Bonn. Este caminho do aeroporto de Frankfurt até a cidade de Bonn eu fiz em um trem, onde descobri que os transportes públicos não possuem “catracas”, ou seja, a honestidade é mais lucrativa do que qualquer tipo de controle.
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O trem foi beirando o Rio Reno, um rio de 1.230 km de comprimento que nasce nos Alpes suíços e corta a Europa de sul a norte. Tanto neste trecho que fiz de trem quanto no outro trecho que fiz num passeio de barco pude perceber o respeito no espaço das margens e a preservação da vegetação nativa, o que evita o assoreamento deste rio tão importante no escoamento de produtos para vários países.


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Chegando a Bonn fui descobrindo outras coisas. Ao olhar para os lados eu fui entender o porquê de existir em todos os vagões do trem vários ganchos para colocar bicicletas. Em toda a cidade existem bicicletários, ciclovias e muita gente pedalando, chega a ser vergonhoso dirigir um carro por lá – logo no país dos carrões e da Autobahn. Se você gostar muito de pedalar, basta adquirir o guia “Descobrindo a Alemanha de bicicleta”, nele você terá todas as informações para pedalar o país inteiro. Mas se você não quiser pedalar pode usar o transporte público que é totalmente integrado com metrô, ônibus, bonde, trem, trem bala e irritantemente pontual – tudo sem catraca hein.
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O resultado de uma cidade com pouco mais de 300 mil habitantes, super arborizada, onde a maioria da população anda de bicicleta ou usa o transporte público é: ar puro e ruas quase vazias, trânsito zero. E não venha me dizer que isso acontece lá só porque o país é rico. De nada adiantaria o investimento do governo se as pessoas não tivessem a consciência de que agir assim é investir numa qualidade de vida superior, para você e para o próximo, ou seja, coexistência.

Desde 1996 Bonn foi escolhida como sede das Nações Unidas, onde hoje estão cerca de 15 organizações da ONU, dentre eles o Secretariado da Convenção Quadro do Clima (UNFCCC). Antes que me questionem que é só por isso que a água da torneira de Bonn é potável, que os estabelecimentos não fornecem sacolas plásticas e que todo o lixo de residências e estabelecimentos é seletivo vou logo falando que na Alemanha as leis ambientais são super rígidas e, ao contrário do Brasil, são cumpridas.

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Andando pelas ruas de Bonn e Colônia notei outro detalhe interessante, o uso excessivo de placas fotovoltaicas para captação de energia solar em diversos lugares, como máquinas de parquímetro (foto), empresas, domicílios e até no comércio, onde vi fachadas de lojas aproveitando as placas não só para captar energia, mas como parte da decoração. Já que estou falando de energia limpa vale ressaltar que a Alemanha é campeã em geração de energia eólica, com cerca de 30% da produção mundial, e suas empresas investem pesado em outras tecnologias de energias limpas promissoras, como a fotovoltaica, termo-solar e geotérmica.

Mas porque investem tanto em tecnologias verdes? Só pelo meio ambiente? É lógico que não. Eles vêem como uma promissora indústria geradora de empregos que é altamente competitiva e cada vez mais ativa no mercado internacional. Mas não se trata apenas de um plano no papel, em 2007 o setor de energias renováveis já empregava quase 300 mil pessoas e o de tecnologia ambiental gerava mais de 1 milhão de postos de trabalho. A tendência é que os empregos na área ambiental superem os empregos dos setores mecânico e automobilístico, que historicamente são os maiores empregadores de mão-de-obra no país.

E o Brasil, o que poderia tomar de exemplo disso? Sinceramente eu não sei e espero que alguém me dê alguma resposta. Só acho que ainda temos tantos problemas básicos para resolver que fica difícil pensar isoladamente nessas atitudes.

Para finalizar esta postagem eu gostaria de comentar sobre o questionamento que um jornalista alemão me fez durante a coletiva de imprensa que rolou antes da premiação. Ele me perguntou se o Coluna Zero exercia pressão sobre o governo brasileiro, cobrando atitudes em relação às mudanças climáticas. Eu respondi que não, até porque o interesse do blog não é pressionar o governo, mas a sociedade, abrindo uma possibilidade de compartilhar informações de forma livre, sem interesses políticos ou econômicos.

Achei pertinente a pergunta dele, até porque estamos em ano eleitoral. Se mais alguém tinha essa dúvida, fica aí a resposta.

Em breve algumas fotos dessa viagem no Flickr do Coluna Zero.



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