Balanço dos eventos pra lá de paralelos à Rio+20

Por Bruno Rezende.

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Entre os dias 12 e 22 de junho diversos eventos paralelos à Rio+20 tomaram conta da cidade. Organizados pelo poder público, privado, ONGs e associações, a variedade de eventos agradava diversos públicos, de diferentes opiniões, classes sociais e faixas etárias. No post anterior fiz um balanço apenas da Conferência Rio+20, agora vai um resumo sobre os eventos pra lá de paralelos que agitaram a cidade.

Cúpula dos Povos

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A Cúpula dos Povos, localizada no Aterro do Flamengo (Zona Sul), e a Rio+20, no Riocentro (Zona Oeste), tiveram um distanciamento muito maior do que o geográfico e ideológico. A organização e a infraestrutura, impecáveis na Rio+20, deixaram muito a desejar durante a Cúpula. A quantidade de pessoas andando sem rumo ou procurando informação pelo Aterro do Flamengo era impressionante. Havia diversas tendas para debates e apresentações, mas a maioria se encontrava vazia, pois no local não tinha a quem perguntar sobre uma programação oficial dos eventos.

A parte mais interessante, onde era possível conhecer projetos de diversas ONGs e associações, se concentrava em stands no caminho próximo a ciclovia. Trabalhos muito bacanas e projetos exemplares, como o Criança e Consumo do Instituto Alana, estavam por lá. Infelizmente a maior parte desta área serviu como uma feira de produtos supostamente verdes. Como não havia organização era fácil encontrar alguns ambulantes vendendo os mesmos produtos que costumam vender na rua Uruguaiana, no Centro do Rio, como CDs e DVDs piratas e produtos chineses dos mais variados.

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Vários visitantes reclamaram de outros problemas, principalmente nas áreas destinadas a camping, mas mesmo desorganizada eu garanto que a Cúpula dos Povos cumpriu seu papel, criando uma sinergia entre povos do Brasil e de diversas nações, culturas e ideologias. Foram além dos debates da Rio+20, pois levaram em consideração outros aspectos que vão além dos políticos e econômicos.

A Érica Sena, nossa parceira com o blog Pensar Eco, deixou um parecer bacana sobre o que viu na Cúpula, confira aqui.


Exposição Humanidade 2012

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A foto acima nos mostra como caminha a humanidade: sob a mira de um canhão. É óbvio que a proposta do evento não foi passar esta mensagem. Mas diante das revoltas que vemos pelo mundo, como a queda de vários governos, faz todo sentido essa interpretação, subliminar ou não.

A exposição Humanidade 2012, instalada quase em cima de um cartão postal (Forte de Copacabana), produzida por Bia Lessa e financiada por conhecidos empresários que oportunamente embarcaram na onda verde, é extremamente criativa e muito bem acabada. Artisticamente falando, é de tirar o fôlego. Mas ambientalmente falando, não informa, não desmitifica, não acrescenta nenhuma novidade além das que já conhecemos desde a nossa infância. Foca muito na questão ambiental, sobre a importância de se preservar florestas, rios e toda a biodiversidade, mas passa muito superficialmente pela questão do consumo responsável, que na prática leva a degradação ambiental. Falar sobre separação de lixo é fácil, mas alguém fala sobre produzir menos lixo? Sobre consumir menos? Senti falta de mais informação qualificada.

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Alguém pode pensar que estou falando isso por ter esse blog e falar diariamente de todos esses temas, mas o engraçado é que não fui o único a ter essa opinião sobre a exposição. Minha namorada achou a mesma coisa e outras pessoas, que também ficaram 3 horas na fila para conseguir entrar na exposição, concordaram quando saíram. Abaixo a opinião de um senhor que saiu de lá indignado, não só com a falta de novidade deste evento, mas com a conferência em si:


Caso tenha recebido essa publicação via RSS ou e-mail, clique aqui para assistir ao vídeo.

Outra crítica importante é em relação ao tempo da exposição. Ela ficou aberta a visitação pública por somente 12 dias. Isso me chamou a atenção porque em fevereiro deste ano fui passear no Forte de Copacabana e vi que uma enorme construção de andaimes começava a se elevar ali. Só em maio eu fui descobrir que era para um evento paralelo da Rio+20, o Humanidade 2012.

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Então ficam 4 meses construindo algo enorme para funcionar por 12 dias? Esse evento não poderia ser feito em um lugar já pronto? Alguém quer conversar sobre sustentabilidade? O que não falta no Rio são espaços para grandes eventos. Achei um desperdício de dinheiro e material para 12 dias. Ainda bem que para fazer a Conferência Rio+20 não tiveram a mesma ideia de construir um espaço, o Riocentro "deu pro gasto" pra ONU...


Exposição de fotos na Cinelândia

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Quem passou pela Cinelândia, no Centro do Rio, pode ver ao ar livre a exposição A Terra Vista do Céu, do fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, aquele que também produziu o filme Home. A idéia surgiu há 20 anos atrás durante a Eco 92, quando o fotógrafo decidiu viajar todo o mundo registrando através de fotografias aéreas os impactos que o ser humano provoca à Terra. A exposição conta hoje com 130 imagens que podem ser vistas no site do projeto: terravistadoceu.com Vale muito a pena conferir, pois não são apenas fotos, na descrição de cada imagem você descobre informações sobre impactos ambientais naquela área ou no mundo.


Píer Mauá

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No Píer Mauá ficou concentrada, em sua maior parte, as representações dos Ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Agrário, das Comunicações e da Integração Nacional, além do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Depois da Rio+20 este foi o evento paralelo mais político que houve na cidade. Na verdade eu não tive muita paciência para apreciar depois que avistei um grupo que usava uma camisa com a frase “Sou do Xingu. Apoio Belo Monte”. A partir daí eu percebi que havia algo errado ali além da parceria da Monsanto com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

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A parte que achei mais legal neste lugar foi a visitação ao navio Rainbow Warrior do Greenpeace, que ficou atracado por lá durante a semana. Para falar a verdade eu realizei um sonho de criança com essa visita e, provavelmente, o próximo post seja falando exclusivamente sobre isso.


Marchas e Protestos

Este ponto me decepcionou bastante por dois motivos: falta de divulgação e de engajamento da sociedade.

Durante a semana da Rio+20 aconteceram vários protestos, muitos partiram do Aterro do Flamengo em direção ao Centro da cidade. Mas a desorganização da Cúpula dos Povos se refletiu na divulgação desses protestos. Pela internet podíamos acompanhar os protestos já em ação, nada era avisado antecipadamente. Fora a grande Marcha dos Povos, que aconteceu na quarta-feira (20) e já tinha sido agendada e divulgada há muito tempo, muitos outros protestos se resumiram a pequenos grupos dispersos com alguns cartazes. Sem contar os diversos grupos políticos que aproveitaram do evento para aparecer.

a falta de engajamento me envergonhou. Era patético ver nas redes sociais os comentários de algumas pessoas que estavam em seus escritórios no centro do Rio fotografando a Marcha dos Povos e os chamando de “bando de vagabundos” ou dizendo “isso que vocês estão fazendo é o mesmo que a gente faz no carnaval”. Até concordo, pois muitos afirmaram que a marcha foi uma grande festa democrática e sem qualquer sinal de violência. Mas a grande diferença é que durante o carnaval lotam as ruas sem qualquer proposta, muito diferente do que foi a Marcha.

Esse comportamento é o retrato da civilização, pessoas que só pensam no próprio umbigo porque naquele momento estão desfrutando de uma zona de conforto. Não tem como não lembrar de um trecho da música S.O.S., de Raul Seixas, que diz: "Ninguém pode notar, estão muito ocupados pra pensar". Faz todo sentido! Eu ia além e completaria a frase: "e acomodados para agir".


Bom, esse foi o meu balanço sobre os principais eventos paralelos. Não tive como participar de todos, mas o que deu para fazer sozinho eu fiz. Outros colegas blogueiros também estavam no Rio e cobriram eventos diferentes, quem quiser saber mais é só acompanhar o Coluna Zero no @colunazero e no Facebook, pois divulgarei os links das matérias.

Acredito que a Rio+20 e seus eventos paralelos deveriam deixar o legado da permanência. A frequência de eventos que discutem sobre desenvolvimento sustentável tem que aumentar e se espalhar por outras cidades do país. Assim seria possível elevar o nível dos debates, gerar informação de qualidade e engajar a sociedade. Fica a minha esperança.





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