
No ano passado encarnei o “folião” e fui acompanhar os blocos no carnaval de rua do Rio de Janeiro, isso acabou rendendo uma polêmica postagem sobre o contraditório “carnaval consciente” tão estimulado pela mídia na época. O esforço de mídia e a organização do evento não apresentaram resultados muito positivos em 2010.
Neste ano não podia ser diferente, encarnei novamente o folião, peguei minha câmera e fui pra rua acompanhar na pele o que mudou, melhorou ou piorou em relação ao carnaval de rua do ano passado.
O carnaval do Rio bateu todos os recordes em 2011. Então nada melhor que começar esta postagem apontando alguns números:
- 424 blocos foram autorizados, 37 a menos que 2010;
- 5 milhões de foliões curtiram o carnaval de rua, 2 milhões a mais que 2010;
- 13.000 banheiros químicos e contêineres sanitários foram espalhados em mais de 800 pontos da cidade, 8.600 a mais que 2010;
- 777 foliões foram detidos por urinar nas ruas, 435 a mais que 2010;
- 850 toneladas de lixo foram recolhidas durante o carnaval, 90 toneladas a mais que 2010.
É notável o aumento de quase todos os números, com exceção dos blocos. Esta redução faz parte de uma manobra da prefeitura do Rio, pois não querem investir no aumento do carnaval de rua na cidade. O prefeito Eduardo Paes já avisou que para 2012 não haverá aumento na quantidade de blocos, qualquer alteração será visada na redução. Segundo ele a Avenida Rio Branco (centro) não pode se tornar um corredor de blocos. Fazer o que então? Criar outro sambódromo só para os blocos e matar novamente o carnaval de rua do Rio?
Ao invés de fugir do problema a prefeitura deveria encarar os eventuais problemas e fazer o carnaval crescer cada vez mais até 2014, pois a experiência disso vai colaborar para organização das olimpíadas, que estima a presença de mais de 9 milhões de pessoas pela cidade. E por falar em estimativas, por que estes cálculos não são tão otimistas quanto as opiniões dos secretários de conservação e de turismo da prefeitura do Rio? Para falar do sucesso da organização do carnaval eles enchem a boca, mas para estimar a quantidade de gente o cálculo é sempre muito humilde. Em 2010 eles esperavam 2 milhões de pessoas, compareceram 3 milhões. Em 2011 esperavam 3 milhões, compareceram 5 milhões. Quem calcula isso? Só pode ser alguém que nem fica no Rio durante o carnaval.
As pessoas que fazem estas estimativas devem ser as mesmas que definem a quantidade de banheiros químicos, que nunca é suficiente. A média foi de 1 banheiro para cada 375 pessoas. Sobre o cheiro dos banheiros eu dispenso comentários, diante desses números acho que já dá para ter uma noção do tamanho do estrago. Essa quantidade de gente foi bem visível nas filas. Um aspecto muito interessante com relação a isso foi a fila em si. Em todos os momentos que me submeti a encarar estas filas me deparei com algo inusitado, as filas dos banheiros masculinos eram incrivelmente maiores que as dos banheiros femininos. Minha namorada também testemunhou esse fato, pois quando ela saía do banheiro eu ainda esperava na fila por mais uns 20, 25 minutos. Não demorou muito para eu perceber o que estava provocando isso. Acho que as mulheres descobriram que a polícia estava reprimindo mais os homens do que elas, daí resolveram urinar tranquilamente pelas ruas, árvores e até atrás dos banheiros químicos. Isso ficou claro nos números, já que das 777 pessoas detidas por urinar nas ruas apenas 26 eram mulheres.
Em fevereiro a agência F/Nazca criou para o jornal O Globo um anúncio totalmente direcionado aos homens sobre fazer xixi na rua, praticamente uma “campanha de adestramento”. Diga-se de passagem, uma verdadeira vergonha para cidade que quer sediar uma Olimpíada. Veja abaixo:
Fica a dica para toda a imprensa, que só pensou no xixi dos homens, criarem no próximo ano um anúncio de adestramento para as mulheres.
O lixo
O principal problema que relatei na postagem do carnaval no ano passado teve algumas melhorias em 2011, mesmo que isoladas. De qualquer forma foi inevitável não andar em meio ao lixo por algumas ruas do centro da cidade, como pode ver abaixo na foto e no precário vídeo que gravei na Avenida Rio Branco (Cinelândia) na noite de sábado, primeiro dia de carnaval:
Neste ano a prefeitura organizou um esquema com a COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) para recolher o lixo deixado após a passagem dos blocos, teve tudo para dar certo. Funcionava assim: atrás de cada bloco vinha um caminhão de lixo, um caminhão pipa e diversos garis recolhendo o lixo e lavando as ruas, muito bacana, porém só presenciei isso em alguns blocos.
Na foto abaixo você vê o trabalho dos garis que recolheram 12 toneladas de lixo após a passagem da Banda de Ipanema, um dos maiores blocos da Zona Sul do Rio:
Achei bacana esta iniciativa e acredito que se for ampliada poderá ser uma ótima solução. Em compensação o tipo de lixo encontrado pelas ruas não mudou em relação a 2010. Os packs de latas de cerveja (patrocinadora do evento) estavam por todo lado, sem contar os espetos usados em churrasquinhos e outros objetos ótimos para se machucar.
As poucas lixeiras existentes nos postes estavam transbordando, o que era de se esperar. Na Av. Rio Branco era possível ver algumas lixeiras amontoadas em um único ponto, como pode ver abaixo:
Por que não espalharam estas lixeiras? Para piorar, a maioria delas não tinha lixo nem pela metade.
O mais engraçado eu presenciei neste mesmo lugar, onde vi algumas pessoas usando umas destas lixeiras como mesa para apoiar a cerveja, mais cômodo e "higiênico" impossível:
Não adianta também reclamar da organização do evento e da prefeitura se a população não faz a parte dela.
Com relação a segurança e transportes eu avaliei pouco, até porque o foco deste blog é outro. Mas se serve como referência, tive 2 amigos furtados simultaneamente diante dos meus olhos na Lapa. Tentaram me furtar enfiando a mão no meu bolso durante um bloco em Ipanema, mas minha carteira estava em outro lugar (segredo).
O meio de transporte menos problemático era o metrô, com exceção do que fizeram na estação General Osório em Ipanema, pois fecharam 2 dos 3 acessos ao metrô e isso gerou um caos bíblico que valeu uma caminhada até Copacabana para tentar pegar um ônibus que insistia em não parar em nenhum ponto, coisa super normal no Rio.
Então finalizo aqui o registro do carnaval do Rio em 2011 e fico na torcida para que em 2012 as estimativas da prefeitura sejam mais realistas e que as ações correspondam ao tamanho da festa.
Abaixo algumas fotos finais:
Av. Rio Branco com Av. Almirante Barroso no Centro
Rua Evaristo da Veiga na Cinelândia
Av. Rio Branco lavada pela COMLURB na manhã de domingo
"Lixômetro" na praia de Copacabana
Foliões reunidos na orla para acompanhar a Banda de Ipanema
Trabalho dos garis após a passagem da Banda de Ipanema
Quarta-feira de cinzas na Praia de São Conrado
Quarta-feira azul na orla de Botafogo... assim dá até para esquecer de todo aquele lixo!