Reflexões do III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade

Por Bruno Rezende.

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Tive o prazer de participar do III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, finalizado na última quinta-feira (20) no Rio de Janeiro, que abriu um espaço para debater o papel da comunicação em união com a sustentabilidade. Além do tema principal, pudemos acompanhar diversos pontos de vista analisando aspectos culturais, econômicos, ecológicos e sociais, tendo como base os princípios da Carta da Terra.
Destaco aqui algumas reflexões importantes feitas por alguns palestrantes que podem nos ajudar no entendimento sobre sustentabilidade e na nossa forma de pensar e agir.

Eu poderia passar mais de um mês falando sobre esses dois dias do Fórum, mas como não terei tempo pra isso, vou citar algumas reflexões que valeram para reafirmar aquele pensamento de Sócrates “Só sei que nada sei” e descobrir um novo pensamento, citado pelo professor, e palestrante neste III Fórum, Leonardo Boff “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”.

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Começamos na quarta-feira (19) com o inglês Lucian Tarnowski, um jovem empreendedor de 26 anos responsável pelo BraveNewTalent.com. Ele afirmou que a mídia social não é uma tendência, e sim, uma mudança na forma de comunicação, ou seja, as empresas terão que reconhecer e se adaptar a essa nova fase. Defendeu que o acesso à comunicação deve ser um direito humano essencial, como a saúde e que a educação pode lapidar “diamantes brutos”. Ele seguiu o raciocínio de que é necessário o direito a educação e o livre acesso a informação para formação de jovens capazes de mostrar seu talento.

O poeta e rapper GOG chegou alfinetando e aplicando uma injeção de realidade nos participantes do Fórum. Com sua simplicidade, mas muita lucidez defendeu que os meios de comunicação deveriam trabalhar com mais informação e menos notícia. Ele questionou “Será que a comunicação vai continuar sendo entendida apenas por pessoas que têm mais de 1.500 palavras em seu dialeto?”. GOG afirma que a comunicação deve ser compreendida por todos, indiferente da classe social e que hoje a informação das mídias sociais só atingem uma pequena parcela da população.

Na quinta-feira (20), o rapper MV Bill, nascido na Cidade de Deus (RJ), abordou muitas questões sociais, fazendo um paralelo com a questão ambiental. Ele afirmou que não consegue separar a questão ambiental da questão social, citando como exemplo o trabalho de conscientizar a comunidade a não jogar o lixo num “valão” que cruza a comunidade, pois além do problema de contaminação, sempre que chovia os moradores sofriam com enchentes e acabavam por perder suas casas, ou seja, um problemão social. Sobre violência, ele disse que a culpa dos problemas de falta de emprego, de moradia, educação, saneamento, entre outros acabam caindo erradamente nas costas da polícia, que é a instituição mais representativa por estar na linha de frente. MV Bill finalizou dizendo que a educação tem que deixar de ser um artigo de luxo e incentivou o nosso poder de botar a boca no trombone falando que “o silêncio dos bons faz com que os maus imperem”.

A pedagoga Tia Dag, fundadora da Casa do Zezinho, no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, fez uma bela apresentação compartilhando sua garra e determinação a frente da ONG que atende mais de 1.200 crianças, muitas delas sofriam violência doméstica. Tia Dag afirmou que na casa do Zezinho, onde as crianças têm acesso à educação, aulas de música, teatro, informática, além de capacitação profissional, atendimento odontológico, convênio médico, oftalmológico e reeducação alimentar, o custo de cada criança é de pouco mais de R$300,00 por mês, contra os R$6.000,00 da FEBEM. Ela defende que deveriam organizar Fórums, como este, em comunidades carentes, promovendo o alfabetismo ecológico. Achei simplesmente genial esta sugestão dela, bate com a idéia do rapper GOG que defendeu a compreensão e a pulverização da informação.

O professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia, Leonardo Boff iniciou sua palestra dizendo sua célebre frase “todo ponto de vista é a vista de um ponto”, ou seja, cada um tem sua visão de mundo onde se lê com os olhos que tem porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita. Em seguida Boff disse “Nós precisamos da Terra, não é ela que precisa de nós”. Ele abordou a questão do consumismo desenfreado, afirmando que somos seres consumistas sim e isso não vai mudar, mas precisamos fazer isso com responsabilidade, respeitando os outros seres existentes no planeta “O mercado é regido pela concorrência, pela competição e não pela cooperação”. Foi incisivo ao dizer “É arriscado confiar nossos destinos aos políticos, a humanidade tem que tomar esse poder em suas próprias mãos", ou seja, a atitude de cada um fazendo sua parte independente de esperar a ação dos outros.

A palestra mais esperada e por unanimidade escolhida como uma das melhores foi a do economista bengalês Muhammad Yunus, Fundador do Grammen Bank, o banco dos pobres, e Prêmio Nobel da Paz em 2006. Um homem com uma visão social firme e embasada que conquistou facilmente a platéia através da sua forma socialmente responsável de enxergar mundo dos negócios. Ele afirma que seu objetivo é ajudar os pobres a crescer através do microcrédito, elevando-os na pirâmide social. A diferença entre o Grammen e os bancos tradicionais é que empresta dinheiro aos pobres sem exigir nenhuma garantia legal, não cobra juros compostos nem aceita empréstimo de governos, visita seus clientes em suas casas, é de propriedade do povo. Aproximadamente 97% das pessoas que fazem empréstimos no Grammen Bank são mulheres e a taxa de inadimplência é baixa se comparada com outros bancos. Este banco tem por volta de 98,85% de retorno dos empréstimos. Yunus afirma que isso acontece porque aquele que paga sua dívida se sente importante e isso faz toda a diferença. Quando perguntado sobre o programa Bolsa Família ele disse “é bom, mas é preciso dar condições à essas famílias de saírem do Bolsa Família”. Ele sugere que o programa Bolsa Família seja transformada em empreendedorismo social, pois só assim é possível a auto-sustentabilidade e prescinde de esmolas governamentais. Yunus termina dizendo que existem dois tipos de negócio: o de ganhar dinheiro e o de mudar o mundo.

Como nem tudo é perfeito, tivemos alguns momentos em que diretores ou representantes de algumas empresas patrocinadoras do Fórum subiram ao palco para fazer propaganda descarada, falar frases feitas e mais um bocado de besteiras, que acarretou numa reação em cadeia de abandono de cadeiras. Esta é apenas uma prova de que grandes empresas ainda estão por fora do assunto e continuam enxergando o assunto apenas como uma oportunidade de marketing.

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No final da noite de quinta-feira fomos contemplados com um show em homenagem a Carta da Terra. Subiram ao palco o rapper GOG, MV Bill, Mallu Magalhães e Jair de Oliveira, além dos Móveis Coloniais de Acaju, que chegaram a descer do palco e fazer o show no meio da multidão, e Seu Jorge, trilha sonora indispensável nas viagens do Coluna Zero, que finalizou com um belo show acústico apenas na voz, violão, violino e gaita.

Deixo meus parabéns a Atitude Brasil, realizadora do evento, pela iniciativa e pela organização exemplar. Temos que agradecer também os patrocinadores, pois como disse Marisa Orth por várias vezes durante o evento “sem eles nada no Brasil acontece”, infelizmente...

Clique aqui e confira algumas imagens que fiz por lá com a ajuda do amigo e consultor do Coluna Zero, Anísio Teixeira.



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