Não estranhe o título da postagem, quero mesmo saber qual a “pior” opção dentre essas. Falo isso porque a defesa de cada uma das opções é sempre visando o “melhor” para o meio ambiente, para a humanidade e, claro, para o bolso de quem produz. Essas 3 opções de embalagem têm a mesma finalidade, por outro lado possuem um método de produção e de descarte bem distintos.
Avaliando todo o contexto de produção, de uso e descarte destes materiais, como saber qual é a pior opção para os consumidores e o meio ambiente?
Alguém com mais de 20 anos de idade deve se lembrar que quando ia comprar refrigerante num supermercado tinha que levar as garrafas vazias de vidro para trocá-las por outra cheinha. Muitos estabelecimentos, principalmente os supermercados, tinham uma área destinada só para realização desta troca. Com o surgimento das garrafas PET isso acabou. Mas diante dos problemas ambientais ocasionados pela PET e pela falta de políticas publicas consistentes na área da reciclagem, todo este velho procedimento com as garrafas retornáveis pode retornar.
Há aproximadamente 1 mês a AmBev anunciou a volta da garrafa retornável de 1 litro do Guaraná Antarctica. A estratégia se baseou na idéia de estimular os consumidores a práticas mais sustentáveis. Aliado a isso está o preço, pois na recompra o consumidor pagará apenas R$ 1,00, o que representa um custo por litro bem inferior às outras opções disponíveis do mercado.
A questão do preço é bem bacana, mas os consumidores de hoje, acostumados com a comodidade oferecida pelas garrafas PET, voltariam a comprar refrigerante como antigamente? E os estabelecimentos, investiriam em logística para administrar esta troca?
Lembro-me muito bem de uma excursão de colégio que fiz em 1990 à fábrica da Coca-Cola em Porto Real – RJ. O que mais me marcou nesta visita, além dos infinitos litros de Coca-Cola que bebi, foi o privilégio (ou desprazer?) de ser um dos primeiros a ver o refrigerante sendo envasado, semanas antes do lançamento, nas novas e modernas embalagens PET, batizadas como Big Coke, atuais inimigas públicas da natureza. Mas qual consumidor colocaria a questão ambiental a frente da sua comodidade? Nenhum, pois a eficiência das garrafas PET se comparadas com as garrafas de vidro era e ainda é inquestionável. Elas são mais leves, resistentes, versáteis e eliminam a troca de vasilhames, ou seja, não precisa mais ter um espaço em casa para guardar garrafas vazias: Acabou de usar? Joga no lixo. Para as indústrias de bebidas a PET também foi uma grande solução na redução dos custos, pois eliminou as etapas de recolhimento do vasilhame e tratamento para a limpeza de garrafas, como era feito com as de vidro.
Todo mundo deu sinal verde para o PET, 21 anos se passaram e hoje cerca de 68% de todos os refrigerantes produzidos no país são envasados neste material. Está claro que a comodidade fala mais alto, ou seja, é mais fácil mudar a matéria-prima das garrafas PET do que o comportamento das pessoas.
Pensando nisso a Pepsi divulgou recentemente que desenvolveu a primeira garrafa plástica de PET do mundo feita inteiramente de vegetais – recursos totalmente renováveis – permitindo à empresa fabricar um vasilhame de bebida com emissões globais de carbono significativamente reduzidas. Segundo a empresa esta garrafa é feita de matérias-primas baseadas em fontes vegetais, incluindo o capim, casca de pinheiro e palha de milho. Futuramente a Pepsi espera ampliar as fontes de energia renováveis usadas na criação da garrafa “verde” ao incluir cascas de laranja, cascas de batata, casca de aveia e outros subprodutos agrícolas provenientes do seu negócio de alimentos. Ponto final, não falaram mais nenhum detalhe deste produto, segredinho comercial é claro.
Eu poderia citar aqui a “Plantbottle”, a garrafa da Coca-Cola que usa 30% de materiais biológicos na produção, mas pra mim é mais marketing do que solução. Um material biodegradável não pode ser reciclado, até porque ele não foi criado pra isso, portanto se misturar este tipo de material com petróleo só vai dificultar o processo de reciclagem do plástico, não acha?
Para finalizar, vou falar das vantagens e desvantagens de cada material para tentar perceber o pior.
Garrafas PET
Como já falei, as vantagens na utilização de garrafas PET são inquestionáveis, tanto para os consumidores quanto para a indústria. Sem contar que o material é 100% reciclável, mas aí é que vem o problema. Faltam políticas públicas, principalmente por parte das prefeituras, na implantação de coleta seletiva, evitando que este material vá parar na natureza. Outro problema está na relação do uso do material reciclado. De acordo com a resolução 105/99 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o PET reciclado não pode ser empregado na produção de novas embalagens de alimentos. Até aí tudo bem, uma questão de segurança com a saúde pública. O problema é que sai mais barato para a indústria comprar a resina de PET "virgem" ao invés da reciclada. Assim a indústria do petróleo continua rindo de orelha a orelha.
Garrafas retornáveis – vidro
Preço mais baixo na recompra e sabor do produto ligeiramente mais agradável do que os envasados nas garrafas de plástico, fora isso eu não vejo mais vantagens. Infelizmente vivemos num mundo de comodidades e esta opção é a mais incômoda para maioria dos consumidores e também para os donos de estabelecimento. Além disso, as garrafas retornáveis necessitam de um bom investimento em logística para funcionar, portanto são necessários caminhões circulando mais vezes (levando garrafas cheias e trazendo garrafas vazias) com um material pesado, ou seja, queimando mais diesel, sem contar o processo de limpeza das garrafas. Alguém saberia me responder quanta água se gasta na limpeza dessas garrafas?
Garrafas de plástico biodegradável
Em relação a comodidade, tanto para consumidores quanto fabricantes e varejistas, são tão vantajosas quanto as garrafas PET, além de serem supostamente ecologicamente corretas, já que se decompõem infinitamente mais rápido que as garrafas plásticas – que em média levam 100 anos para sumir no meio ambiente. Serve também como um bom exemplo para outras indústrias, vira um diferencial competitivo e estimula a consciência ambiental da sociedade, mas para por aí. Ao mesmo tempo esse tipo de atitude cria um cômodo ambiente para o poder público continuar a dar passos lentos com a gestão dos resíduos, não investindo pesado em políticas de coleta e reciclagem. Devemos lembrar que a poluição do meio ambiente com materiais plásticos é apenas a ponta do iceberg, coisas muito piores vão para o lixo diariamente, como medicamentos, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, entre outros. E tem mais, a matéria-prima geralmente utilizada na produção do plástico biodegradável é de origem vegetal, como o amido de milho. Aí eu pergunto: quantos hectares serão desmatados para criação de plantações com o intuito de substituir 100% da produção de PET no país por plástico biodegradável? É melhor deixar de produzir comida para produzir plástico?
Já que cada um tem o seu interesse e só fala das vantagens de cada opção, então me responda você: olhando o contexto, qual é a pior dessas opções?
Garrafa PET, Retornável ou Biodegradável, qual é a pior opção?
Por Bruno Rezende.
Garrafa PET, Retornável ou Biodegradável, qual é a pior opção?
2011-05-18T21:53:00-03:00
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