A propaganda nos obriga a comprar?

Por Bruno Rezende.

coluna zero, meio ambiente, consumo consciente, sustentabilidade, zero utopia, propaganda, marketing, consumismo

Este assunto é uma espécie de ferida que não canso de por o dedo. Um questionamento que vem desde os tempos de faculdade e proporciona uma discussão que muitos profissionais da área preferem não questionar, apenas seguir o fluxo do mercado.
Tentei evitar esta postagem por diversos motivos, o principal é que talvez eu passe mais um bom tempo sendo um publicitário desempregado, mas f☼#.-se, tudo bem. Tudo começou após assistir este comercial abaixo:


Este comercial faz parte de uma ação conjunta da ABAP (Associação Brasileira das Agências de Publicidade) com a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) em defesa da propaganda. Inclusive achei fantástico este comercial, pois fizeram uma merecida homenagem à criatividade da publicidade brasileira com os comerciais mais marcantes. Deixo um salve para o redator Renato Simões e o diretor de arte Bruno Prosperi, da AlmapBBDO, que assinam a criação voluntária destes comerciais.

Acho legal essa homenagem e muito importante o estímulo em anunciar, pois aquele velho ditado que diz: “a propaganda é a alma do negócio” é verdade, e se você não quer que o seu negócio vá para o mundo das almas, anuncie! Mas em tempos de consumo desenfreado, excesso de lixo e futilidades tecnológicas, não poderia deixar passar a frase final do comercial sobre propaganda: “...a única coisa que ela não faz é obrigar você a comprar um produto”. Será que não?

Concordo com tudo que é defendido no comercial e ainda acrescento mais, pois propaganda informa e estimula consciência ambiental, social, política, enfim, nos faz pensar e questionar muitos aspectos. Isso é propaganda livre e devemos levantar as mãos para o céu por termos isso. Mas na maior parte do tempo a propaganda estimula o consumo. Daí você pode me dizer que “estimular” não é “obrigar”, concordo. Mas estimular é plantar a sementinha do mau, com o tempo ela germina e pressões sociais tornam aquilo obrigação, não para todos, mas para a maioria.

Não vá pensando que tenho uma prateleira de troféus para falar com tanta autoridade, estou longe disso, mas qualquer publicitário de porta de gráfica sabe como encontrar o vazio emocional do seu público-alvo ou target. Caímos aqui em outra questão: a propaganda gera desejo, mas é capaz de gerar necessidade? Eu acredito que sim, mas isso é papo para se discutir numa outra vida.

A propaganda não lhe influencia diretamente a comprar um produto, pressões sociais levam a isso. E quem estimula essa pressão? Quem sugere que a compra de um produto é a solução para preencher seu vazio emocional? Sim, a propaganda, aquela que te informa, te emociona, te faz rir e chorar. E se ainda não reparou, veja que, quase sempre, pelo menos 1 dos 7 pecados capitais esta presente nos comerciais institucionais, principalmente os de automóveis. Não é à toa meu caro.

Canso de ver pessoas humildes que gastam quase todo o salário para poder comprar um par de tênis, só para ser aceito por um determinado grupo. Isso não é obrigação? E as que compram produtos falsos? Muitas vezes a propaganda acaba dando um tiro no pé, pois criam campanhas tão fortes em relação a status social, consequentemente com preço elevado, que acabam estimulando o consumo de produtos falsificados, já que nem todos podem pagar aquele preço, mas desejam ter aquela vida que o comercial mostra e o consumidor sabe que não terá sem aquele produto.

E o nosso governo ajuda bastante no consumo desenfreado quando reduz o IPI de produtos, como os automóveis. Eles não querem ver o Brasil enfeitado com carros 0km, eles querem acelerar a economia, mas a conseqüência disso são pessoas cada vez mais endividadas, trânsito caótico e poluição. Já escrevi aqui sobre isso, se quiser ler mais clique aqui.

Bom, a intenção aqui não é ir contra a propaganda, muito menos dizer que a solução para o consumo consciente é parar de consumir, uma utopia. Somos consumidores e sempre seremos, mas para sermos conscientes precisamos de alguns escudos, um deles é a informação.



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